Hip Hop é coisa séria, no Cariri
O Cariri é uma reinvenção do nordeste reinventado. Engana-se quem em acha que o Cariri é apenas tambores e pífanos, mateus e catirinas, guerreiras e guerreiros de reisado, pisadas de coco e batidas de maneiro pau. O Cariri é também lugar das galerias de rua, das batidas eletrônicas dos DJs, das danças que tem como palco a rua e das vozes politizadas do rap.
É o Cariri também do Hip Hop que se reoxigena ao longo das décadas e cria processos de organização nas margens das cidades, que se reconecta com o mundo e que se apropria dos espaços improvisados para ensaiar, gravar, cantar e deixar suas marcas.
Como em outras partes do Brasil, o Hip Hop do Cariri penetra dentro das novas mídias para registrar as suas produções e criar os seus empoderamentos e intercâmbios. Os seus vídeos e músicas são hospedadas no mundo, o artista é o produtor.
É nas margens das cidades que o Hip Hop se fortalece e cria suas trincheiras de resistência e criatividade. No mesmo palco das injustiças e violências sociais, militantes do Hip Hop alimentam as suas utopias através da arte que está entranhada na vida.
No Cariri, os grupos de se juntam e criam novas conexões e redes, dialogam com outras linguagens e estéticas, algumas vezes se hibridam. É o misturado entre o contemporâneo, a tradição e a criatividade de universidades das ruas.
É a partir deste processo de dialogo, de confrontos e diversidade que vão surgindo estopins de criatividade e de organização e novos militantes da cultura Hip Hop vão sendo formados.
As trincheiras de ação e luta tende a não cessar, existem conectores entre as margens que provocam intercâmbios colaborativos, idas e vindas de militantes do Hip Hop acontecem no Cariri.
As margens das cidades criam um novo circuito estético, artístico, político e criativo que não cabe dentro das institucionalidades burocráticas ou dos enquadramentos estéticos.
Movimento que se banca para fazer as coisas acontecer. Os custos financeiros para produção e circulação dos processos criativos são bancados pelos militantes do próprio movimento. Ao mesmo tempo em que defende políticas públicas de financiamento para cultura e qualidade de vida para a população marginalizadas das cidades.
As vozes silenciadas das margens ganham no Hip Hop uma arte que aponta para o compromisso social. No Cariri o Hip Hop é coisa séria, é atitude cotidiana e fuzil de consciência de 365 dias.
Texto: Alexandre Lucas - Artista/educador, pedagogo e coordenador do Coletivo Camaradas.
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